EMPATIA E ALTERIDADE: A construção da Identidade policial-militar e seus reflexos para a saúde física, mental, social e espiritual
Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/05/20/policiais-que-matam-colegas-problemas-psicologicos-escala-exaustiva.html
Os tristes episódios de suicídio envolvendo Policiais Militares do Estado de São Paulo, amplamente divulgados, analisados e “diagnosticados” por veículos midiático , instigaram um profunda reflexão por parte dos 41 Oficiais-Alunos do Curso Superior de Polícia 2023. Ações humanas que resultam em violência ou, até mesmo, o próprio suicídio, dificilmente encontram explicação numa única causa . Um série imbricada e complexa de fatores endógenos e exógenos, normalmente combinados e potencializados em virtudes das subjetividades e particularidades do tentante ou do perpetrador de ato violento, ajudam a explicar e entender tal fenômeno que envolve a vida e a integridade física de homens e mulheres que são investidos da profissão policial-militar.
Considerando o apresentado na divulgação na Imprensa e Redes Sociais doravante citadas, a Síndrome de Burnout fora o principal motivo coligado ao suicídio. Apontam, de forma conclusiva e irretratável, a Escala de Serviço como principal propulsor da “crise de saúde mental” que “in thesis” atingiria geralizadamente toda a Força Pública Bandeirante na contemporaneidade. Segundo as reportagens, a sobreposição de labor do serviço ordinário (operacional e administrativo) com o serviço extraordinário (Diária Especial de Jornada e Operação Delegada) prejudicaria as atividades da vida cotidiana, mitigando e alterando drasticamente o tempo livre, conceito detentor de uma enviesada interpretação, já que a Ciência considera esse momento como de arbitrariedade seletiva para ser humano decidir o que fazer e realizar.
Vejamos: embora a Organização Mundial da Saúde considere o suicídio com uma “causa mortis” em série histórica de constante queda em escala global, nas Américas tal fator determinante de mortalidade vêm aumentando, especificamente no público jovem . O impacto da falta de sono, uma das motivações empiricamente apontadas no material especulativo-jornalístico não encontra guarida em estudos científicos de natureza longitudinal, sendo tal pretexto fundamental para tentantes e suicidas infanto-juvenis.
Ainda segundo a OMS, a saúde não se define, exclusivamente, como a mera ausência de doença, mas como uma condição de plenitude de bem estar em diversas facetas da vivência humana em sociedade, com destaque para o equilíbrio de um tetraedro composto pelas condições física, mental, social e religiosa . Tal acepção acadêmica reveste-se de uma decisiva importância na compreensão das causas perpetradoras, os chamados “gatilhos psicológicos” que impelem o cometimento do suicídio. Embora a função policial-militar seja o elemento identitário entre os casos jornalisticamente explorados, a maior autoridade em Saúde no mundo nos convida à refletir sobre a expressão “cada caso é um caso.
A PMESP possui uma sólida ação, erigida historicamente, para tratar de doenças além dos aspectos fisiológicos. Seu Sistema de Saúde Mental (SisMen), garantido por lei , materializa-se no intenso trabalho do Centro e dos Núcleos de Apoios Psicossociais espalhados por todo Estado, através de uma importante rede de prestação de serviços para tratar tal problemática. A prática de atividade física semanal, determinada pelo Programa Policial de Treinamento 3 da Polícia Militar (PPT-3-PM), permite que todo Policial Militar em horário administrativo possa realizar práticas neste mister por 3 vezes na semana, em sessões de 45 minutos, sendo que a Escola de Educação Física desenvolve projetos-piloto em várias regiões da Capital e Grande São Paulo para expandir e incentivar tal comportamento na atividade operacional. Temos diversas Associações e Entidades de cunho religioso, que ofertam apoio nesta seara à todo integrante da Instituição que guarde alguma crença, com acesso franqueado em todos os Quartéis. A preocupação do Estado Maior é constante em desenvolver mecanismo de controle e fiscalização de labores extraordinários de jornada de trabalho, através do aprimoramento da eficácia e eficiência de Sistemas como o de Recursos Humanos.
Não faltam medidas para minimizar a prática de suicídios na PMESP. A divulgação dos dados anteriores, “per se”, poderiam se apresentar com uma pronta-reposta político-institucional de combatividade aos tristes e constantes casuísticos que temos acompanhado. Na verdade, para além desta retórica, um mantra perpassa por nossa consciência: toda vida policial-militar importa! Imbuídos do slogan apresentado pelo atual Comandante Geral, “vamos todos juntos, ninguém fica para trás”, torna-se inadmissível qualquer crivo de aceitabilidade passiva frente ao atual panorama crítico, que afeta diretamente, sob aspecto estatístico, o ceifamento das vidas daqueles responsáveis pela própria execução do policiamento ostensivo, qual seja, das Praças.
Somo oniscientes da multiplicidades de tarefas a serem executadas por nossa Praça policial-militar. Suas atribuições transcendem as atividades preventivas e repressivas expressas no artigo 144 da Constituição Federal , alcançando diretamente as funções consideradas essenciais do Estado, vinculadas aos profissionais conhecidos como “burocratas em nível de rua ”, ou sejam, juntamente com servidores da saúde e educação, respondem diretamente pelo primeiro atendimento do Poder Público ao cidadão.
Extra corporis, é necessário superar as narrativas de anúncios céleres de medidas imediatas para a solução de problemas complexos. A medida efetiva para o enfrentamento da vitimização e sensibilidade ao suicídio policial-militar deve se nortear pela trilha das Ciências Policiais, depositando em todos os polos de pesquisa acadêmica o levantamento de hipóteses, a busca de dados e informações e, por fim, a sólida produção de conhecimentos que possam se materializar em Políticas Públicas aplicadas com governança e compliance, envolvendo todos os stakeholders que possam contribuir, conforme já citado anteriormente neste ensaio.
Intra corporis, os Oficiais devem exercer, com fidedignidade, o exercício sacerdotal que juramentaram realizar, com o sacrifício da própria vida, ao ingressarem no respectivo quadro. Para tanto, a Polícia Militar deposita, naqueles que estão à frente de sua Tropa, múltiplos papéis sociais. Simultaneamente, devem ser chefes, gestores, fiscalizadores, líderes... Enfim, há uma série de predicativos que a miscelânea de publicações na área de Administração. Marketing e, até mesmo, de Auto Ajuda, depositam no perfil deste profissional. Na verdade, todas essas facetas são, apenas, espécies oriundas de um único gênero, derivado da verdadeira atribuição originária do militarismo. Os Oficiais devem ser COMANDANTES, ou seja, mandar com consciência, pautados na técnica e tática da execução, na legalidade e legitimidade da ordem mas, sobretudo, na EMPATIA e ALTERIDADE de entender como seu subordinado irá cumprir sua missão. Prospectar cenários atrelados às atitudes de cada Policial Militar comandado torna-se, na atual conjectura, essencial para identificar, decidir e agir nos casos dos perfis suicidas tentantes.
A solução de tal problemática já esta sendo construída nos bancos escolares do Curso de Formação de Oficiais (CFO), com um profícuo e exitoso currículo organicamente inserido no Sistema de Ensino da Polícia Militar (SEPM), que objetiva formar e forjar os futuros Bacharéis em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Entretanto, deve-se discutir, em nível estratégico, a premente necessidade de cunharmos e projetarmos um PLANO DE CARREIRA para os Oficiais, não apenas visando o completamento das vagas de Tenentes. Fica evidente a necessidade de se estabelecer tal paradigma, com turmas detentoras de número fixo de vagas por processo seletivo externo, preenchendo as necessidades derivadas do primeiro posto para concurso interno exclusivo para Praças, extinguindo o Quadro Auxiliar. A IDENTIDADE do Comandante passa pela criação de um PERFIL DE TURMA. A realidade da Polícia Militar do Estado de São Paulo é materializada pelo trabalho sinergético dos 20 Coronéis que compõem o Alto Comando da Corporação. Estes devem se conhecer desde o ingresso, passar pelas agruras, derrotas e vitórias que cada posto apresenta como desafio, aprendendo a gerir riscos e a apostar em oportunidades. Nesse cenário, a competência deve ser retroalimentada pela experiência e vivência adquiridas, apenas, pela convivência ao longo da carreira.
Para além da identidade do Comandante, a IMAGEM da identidade do Policial Militar neste momento é crucial para entendermos o que somos, o que devemos fazer e onde deveremos chegar. Precisamos ainda repensar e redesenhar a Corporação. Talvez seja chegado o momento de romper com as estruturas criadas e se aproximar do desenho daquilo que se vivencia efetivamente. Não há como querer eliminar redundâncias, pensar sistemicamente, minimizar retrabalho, se continuamos a criar estruturas organizacionais que afastam cada vez mais a estratégia da operacionalidade. Tal desenho, acredito firmemente, apenas retroalimenta nossas crises de identidade, objetivos e rumos, na medida em que se passa a ser impossível comandar estrategicamente.
Numa importante fase de discussão do Planejamento Estratégico de 2024 a 2031, devemos alinhar a busca de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) que permitam a fiscalização e o processo célere e verídico de transmissão de conteúdo que permita identificar e evitar o ceifamento de vidas de nossos profissionais. Entretanto, a INOVAÇÃO apenas alcançará seu propósito se estivar imbricada e somatizada com a TRADIÇÃO que sustenta nossa Instituição há quase 200 anos: hierarquia para se posicionar, disciplina para executar, lealdade para comandar ou se subordinar e constância para edificar a carreira. INOVAÇÃO e TRADIÇÃO: Polícia Militar – 200 anos com foco na sua missão: comandar e prover a Legião de Idealistas para proteger o Povo Paulista!
AUTORES:
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Maj PM Wanderley TUROLLA Alves Cardoso
Maj PM ORIVAL Santana Júnior
Maj PM DEMÉTRIUS Gomes Lopes
Maj PM Eduardo MOSNA XAVIER